domingo, 14 de novembro de 2010

Casa de Antonio Tavernard

Resolvi postar esta reportagem, por conta da imensa tristeza que sinto ao ver Icoaraci entrar em ruínas, junto com os seus casarões, que fazem parte da História da Vila Sorriso. Quando eu estudava na Escola Municipal Avertano Rocha (que hoje também é apenas ruínas), nas horas de folga eu visitava a casa de Antonio Tavernard, que funcionava como acervo do autor, seus trabalhos eram expostos ao público. Era uma delícia estar ali, em frente ao rio, e casas antigas sempre me deixam maravilhada, fui aquele lugar diversas vezes. Por isso mesmo, olhar o estado em que se encontra aquele lugar, é deprimente, chego a lágrimas por se tratar também da minha história. Meu amigo/irmão Evanildo tem o mesmo sentimento de descaso que eu. Vou aproveitar esse post pra deixar um beijo e um abraço a ele, que também é minha história, meu mano Eva.



Casa em que viveu Antônio Tavernard está em ruínas

DIEGO ANDRADE - PUBLICADO NO DIÁRIO DO PARÁ DE 23/02/2009

Das paredes em estilo colonial, só restam escombros e colunas que mal se sustentam. Portas e janelas já vieram abaixo pela ação do tempo. O mato tomou conta de todo o interior do imóvel, com raízes espalhadas naquele que deveria ser um patrimônio histórico preservado, um testemunho da vida e obra do autor e também um dos tesouros históricos de Icoaraci, que a cada ano vê seus casarões desaparecerem nas estações chuvosas.

O ator e estudante universitário Evanildo Mercês desabafa ao relatar o estado da edificação. “Essa situação é um desrespeito à sociedade paraense. A casa que deveria ser, pela sua forte simbologia, um espaço dinâmico da linguagem literária ou de realização de atividades artístico-culturais permanentes não passa de ruínas invadidas pelo matagal da área que cresce a cada dia, destruindo os restos mortais do prédio, dando, ao mesmo tempo, lugar a uma paisagem urbana desastrosa, fedida e aterradora”, diz ele.

Entre os moradores que frequentam as proximidades do local, é comum perceber movimentações de mendigos e assaltantes, que utilizam o terreno como ponto de esconderijo durante a noite.

Procurados pelo Diário do Pará, os órgãos públicos apontam possíveis motivos para a situação da velha casa. Segundo a assessoria da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), a casa do poeta foi repassada à Secretaria de Segurança Pública (Segup) ainda na administração anterior. Durante esse período, a casa ficou sem nenhuma manutenção. Ainda de acordo com a assessoria, a Secult está começando um processo de negociação com a Segup para retomar o imóvel e, desta forma, realizar um projeto de revitalização. A Segup também foi procurada pela equipe de reportagem, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.

A questão é que o imóvel, de grande importância histórica está preso entre os trâmites burocráticos do poder público. Se o governo não as- sumir a responsabilidade pelo local, não sobrarão nem as colunas da casa como testemunhas da história do poeta. Aliás, a casa está tão deteriorada, que só é possível reconhecê-la graças a uma placa trilíngue (em português, inglês e francês) com os seguintes dizeres: “Casa do Poeta Antônio Tavernard. Casarão antigo do século passado”. (Belém-PA/Diário do Pará)
Faleceu vítima da hanseníase, incurável nos tempos do poeta. Fiquemos, portanto, com três  raríssimas jóias produzidas pelo vasto universo da mente de Tavernard.
ÚLTIMA CARTA

        "Sobre o leito de morte do poeta, foi
         encontrado esse papel cheio de letras
         trêmulas e manchado de lágrimas".

Por que não me vens ver? Estou doente...
É possível que morra com o luar...
Anda, lá fora, um vento, tristemente,
as ilusões das rosas a esfolhar.
E, aqui dentro, na alcova penumbrada,
onde arquejo, sozinho, sem sequer
a invisível presença abençoada
de um pensamento meigo de mulher,
há o desconsolo imenso, a imensa dor
de alguém que vai morrer sem seu amor...

De quando em quando,
o coração, que sinto
cada vez mais cansado, se arrastando,
marcando o tempo, recontando as horas,
pergunta-me, num sopro quase extinto,
quando é que virás...
Volta depressa, sim?... Se te demoras,
já não me encontrarás...

Ouço, longe, a gemer de harpas eólias...
É de febre... Começo a delirar...

Desabrocham, no parque, as magnólias...
Vem surgindo o luar...
E, como a luz do luar que vem nascendo,
eu vou aos poucos, meu amor, morrendo...
 SONHOS DE SOL

“Nesta manhã tão clara é sacrilégio
o se pensar na morte. No entanto
é no que penso úmidos de pranto
os meus olhos cansados.

Sortilégio
de luz pela cidade... As casas todas,
humildes e branquinhas
lembram gráceis e tímidas mocinhas
no dia de suas bodas.

Morrer assim numa manhã tão linda,
risonha, rosicler,
não é morrer... é adormecer ainda
na doce tepidez de um seio de mulher!
Não é morrer... é só fechar os olhos
Para melhor sentir o cheiro do jasmim
Escondido da renda nos refolhos!...
Ah! Quem me dera que eu morresse assim.



SIMILITUDES


Nasci em frente ao mar.
Meu primeiro vagido
misturou-se ao fragor do seu bramido

Tenho a vida do mar!
Tenho a alma do mar!

A mesma inquietude indefinível,
que nele é onda, e é em mim anseio,
faz-nos tremer, faz-nos fremir, faz-nos vibrar.
Às vezes, creio
que da minha loucura do impossível
sofre também o mar.
Tenho a sua amplidão iluminada
- o meu amor; e seu velário de brumas
- minha mágoa.
Ruge a tormenta... e o que ele faz com a frágua:
embates colossais,
faço com a minha fé petrificada...
té que tudo se extingue em turbilhões de espumas
e de lágrimas... Destinos abismais!...

Guarda em si tempestades que estraçoam,
Cóleras formidáveis em mim guardo...
Sobre o meu pensamento, idéias voam,
voam alciões sobre o seu dorso pardo...

Meu gigantesco irmão,
Senhor do cataclismo,
se tens, por coração, um negro abismo,
eu tenho, por abismo, um coração.
Dentro de ti, quantos naufrágios, quantos,
de naves rotas pelos vendavais?!...
E, dentro de mim, sob aguaçais de prantos,
quantos naufrágios, quantos, quantos,
de sonhos, de ilusões e de ideais?!...

Faço trovas a alguém que não posso beijar
tal como tu, na angústia de querê-las
sem as poder tocar,
fazes, nas noites brancas de luar,
serenatas inúteis às estrelas...

Sou bem fraco, porém, e tu és forte...
Nada te vencerá, há de vencer-me a morte...
Embora!... Mar morto, água dormida
que por mais nada nem de leve ondeia,
hei de deixar meus versos pela vida,
como tu deixas âmbar pela areia!...

2 comentários:

  1. Oie Michelle! Li seu comentário no post que fiz para meu boxer. Sei bem o que você está sentindo, dói muito mesmo perder um ser tão lindo por dentro e por fora como nossos cães, choro de saudades até hoje. Fique bem tá?
    Bjo bjo ^_^

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  2. Eu moro em icoaraci e fico triste tambem por ver esse patrimonio cultural desse jeito.Em ruinas...
    Sou fâ de Antonio Tavernad e espero que consigam reaver para poder salvar o que puder.

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